sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Eu não presto, eu não presto...



Se sagas é o peito,
Se rasga-te o seio,
Então deixe-o...

Sou pura, puritana
Você sujo, embriagues
És breu, posto eu lumbride
Sou a fórmula, ser
Poesia e fermento
Da carne, carnívoro
Sânie, lindo

É o que te resta, querido
meu sobejo;
minha loucura, lacero;
póstumos desejos.

Balbuciei, balbuciaste
Sonhas? sonhos te dou...
Queres? quereres eu sou...
Amores?
Vaias ou protestos?

Eu não presto...
Eu não presto...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

http://www.youtube.com/watch?v=GJfCjdelYYg&feature=fvw

SUPRASUMO

Sentimento louco, mundo cão, palavras soltas formam um vão...
Nesse peito vadio, tão ofegante por novos retalhos...
Apenas cacos, sujo sangue, que dele e de mim derrama...

Suicídio ou eutanásia? Qual dos dois traz mais conforto?
Não sei, não sei...
Um caboclo de coração mole,
Coração de vidro...
Interno arde como areia derretida...
Por fora se arranha fácil...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

PELÚCIA

Penetra nos poros o equivoco, que faz do lobo bicho dos pequeninos.

Análoga a dor vem a carta, que escrita em cetim, esmaece-se cada dia mais, pulsa cada dia menos, pois maior que a vontade de vencer é somente a alforria da carta branca...

...e a degradação do ser acre...
SER

Sou pai, sou filho
Sou tio e sobrinho
Sou carne, sou homem...

Tenho bichos com cabeças de pelúcia, pela sala, quartos, fotos...
Posso acender a brasa da carne, devorá-la, lambuzar-me...

Sou sim sou este ser primata, alérgico, poeta sentimental...
Engulo o mesmo tédio que você; sou parte desta amarga saliva...

...tenho dentes, garras, ódio, sou ser...

Sou aquele que denomina-se racional, civilizado, puro...

... Sou aquele mesmo monstro que tu és...

...Sonhador, distante, sou fábrica poluidora, sou amante que diz o que ninguém diz....

...Sou mais um joão triste, ou chico negro, sou pedro feliz...

...Sou ser, Sou humano...
Viajem por um Brasil desanimador

Desilusão de um simplório viajante perdido em terras assoladas por miséria e pobreza lastimante. Visão que marca qualquer um: - Justiça existe só em conto de fadas? Miséria tem causa? Por que uns comem filé enquanto outros nem osso têm para roer? Ficar em pé não é pra qualquer um


Certa vez, numa dessas minhas andanças pelo lado miserável do Vale do Jequitinhonha , deparei-me com sombrosa indagação, fidedigna de Alfred Hitchcock:
- Diga gauche, como vai essa tua doença?
Que fulgás, pensei comigo. Será pergunta besta de ser besta? Ou anedota mal resolvida?
O gauche, sem demoras retrucou: - Como está fica!
Atordoado, no sentido demagogo da palavra, questionei o transeunte:
- Como vai a doença?
Isso, respondeu o tal. O gauche, a quem declaro fortes enlaces de amizade, com verdadeira tara de expressão, é o ser mais adoentado das bandas do lado de cá.
Pasmei com tal disparate.
Como pode o homem, carne, osso, fibra, ser desencorajado em vida a ansiar a morte que lhe aguarda?
Virei-me para partida como um cego cético e veloz.

Eis que no meio do trajeto do regresso vejo o frouxo caindo a sucumbir na minha frente.
Desespero ou curiosidade? Não sei qual foi o motivo. Mas não passara nem uns minutos e lá estava eu, primeiro a velar o presunto a quem nem o nome sabia.

Se era político, artista, travesti ou diplomata, nunca hei de saber. Mas não passou de um cara. E, naquele momento, descobri que ele não tinha corpo, papel nem persona. Era um cadáver insólito já sem sonhos e presságios. Um Zé Ninguém que desfaleceu. Sua doença, acredito, era a sociedade. Viver num mundo que menospreza a coragem e impõe quem deve ser o que.

O enterro foi às cinco . Eu sentia que deveria ir me embora, mais que depressa, daquele lugar. Mas não antes de fazer amizade com o tal transeunte. Vai saber. Com uma língua daquela ele podia indagar-me o que quisesse.

Apesar do terno com linhas bem finas e definidas, e do sapato mais lustrado que já vi em toda a minha vida, ele me atendeu muito bem. Apertou com convicção de “vencedor” minha mão, serviu café com bolachinhas e até de “amigo” me chamou. Depois de alguns minutos de conversa veio com um papo de titulo de eleitor, votação e credibilidade. Quando notou que nem da cidade eu era quase me fez pagar os biscoitos que eu havia comido.

Nunca mais esqueci do caso. Nem de uma lição: - A mesma fala usada para falsas promessas de um mundo melhor , também serve pra derrubar o irmão, adoecer o espírito e latifúndiar as esperanças de viver.
Velhos Tempos

Um dia fui menino...
Já brinquei de ser feliz...
Acreditava nos homens e suas verdades incondicionais...
Acreditava no amor e na falta dele também...
Via a vida de maneira simples e passional...

O futuro era uma grande esfera de luz...
Donde a gente se fartava de alegria...
Bebia desta fonte dia e noite, noite e dia....
Não sabia do amanhã, nem a ele pertencia...

Hoje no jogo da vida amadurecida...
Colho os frutos de um passado nada doce...
Talvez o mel apodrecido em minha boca
Faça em fel, recordações de uma vida boa...

Cansado de ter que ser isso ou aquilo
De ter por ter, do materialismo
Dispo-me desse mundo sombrio a cada dia
E mato o mal que há em mim
Numa recordação dos meus tempos de criança...
Desabafo

É foda conviver com os humanos, esse seres cheios de maldades e artimanhas. Cada um dessa espécie tem uma verdade absoluta, uma constante variável na verdade, que se transmuta de acordo com o tempo e a situação. Temos em nosso ego a eterna certeza de sermos os melhores, de que sempre estamos fazendo o certo. Mais, cá comigo, fico a pensar, existe coesão? Certo e errado é besteira, intimidade de cada um para consigo mesmo. Inútil padronizar as atitudes e os pensamentos. Cada um desses seres maldosos e soberbos faz sempre o que é melhor pra sí. O amor ao próximo está longe de ser real, palpável. Esse sentimento tornou-se um dialeto vulgar, usado como referencia para falsos amantes. Dizer “eu te amo”, é como dizer “me dá um cigarro”, “vamos pra balada”, “você é uma delícia”.
A palavra “amor” adquiriu um tom banal, ordinário, prosaico e trivial. A segurança em ter alguém do seu lado que o ame não só com palavras não existe mais. Tornamos-nos cinza por dentro, deixando morrer o sentimento mais importante, o mesmo que moveu montanhas, abriu mares, uniu os povos - o mesmo que o criador tanto pediu para que não nos esquecesse. Ninguém tem o dom da perfeição, mas ninguém luta também para não haver conflitos. Somos direcionados sempre a fazer o que todos fazem, a freqüentar os lugares que a maioria freqüenta, a gostar da musica do momento, a usar a roupa da moda, a beijar várias bocas, a deitar-se com qualquer um sem nenhum tipo de compromisso. Enfim, somos o espelho dos outros, cópias ambulantes que não sabem quem é de verdade. Por isso perdeu-se o amor, o afeto, o companheirismo e o respeito. Por isso somos vulgares, práticos, previsíveis....enfim, vazios.